Ainda não é a vez de Westbrook

Gustavo Freitas analisa as chances de o astro obter o MVP

Fonte: Gustavo Freitas analisa as chances de o astro obter o MVP

Que Russell Westbrook faz uma temporada assombrosa, ninguém duvida. Mas terminar a fase regular com média de triplo duplo é o bastante para angariar o seu primeiro prêmio de MVP? Essa é uma questão a ser respondida, mas mais que isso, é necessário ter a mente aberta para o que segue abaixo.

Logo após a saída de Kevin Durant para o Golden State Warriors, ficou nítida a dependência do Oklahoma City Thunder para cima de Westbrook. Basta lembrar que, quando Durant não atuava nos tempos de Thunder, o camisa 0 brilhava sozinho.

É bem verdade que em 2014-15, o Thunder teve enormes problemas com contusões de seus astros e, por isso, ficou fora dos playoffs. Acabou em nono em uma acirrada conferência Oeste, com 45 vitórias e 37 derrotas. Durant apareceu em apenas 27 jogos e assim, Westbrook foi o cestinha da temporada e ali deu sinais de que poderia fazer um ano com triplo duplo de média.

Ao contrário daquele ano, hoje o Thunder encaminha sua classificação para a pós-temporada sem grandes sustos. O primeiro problema é: está longe dos primeiros lugares.

Sim, o que você vai ler agora é básico: a NBA nunca deu o prêmio de MVP a um jogador de time fora do topo de sua conferência. Sabe qual foi a última vez em que um terceiro colocado teve um atleta premiado? Há quase 30 anos, com Michael Jordan no Chicago Bulls de 1987-88. De lá pra cá, todos os vencedores ficaram no mínimo no segundo lugar da conferência.

Mas é uma temporada de triplo duplo, ora. Isso tem de ser levado em consideração. Certo?

Errado, mais uma vez.

Você, que estudou um pouquinho sobre a NBA, sabe que em apenas uma ocasião em toda a história da liga, teve alguém com o feito que Westbrook luta para conseguir. Trata-se de Oscar Robertson, uma das maiores lendas do basquete. Ele o fez em 1961-62, com absurdos 30.8 pontos, 12.5 rebotes e 11.4 assistências. Incrível, não?

Para a NBA, não o suficiente para ser o MVP. Naquele ano, quem ficou com o prêmio foi Bill Russell, com “modestos” 23.6 pontos, 18.9 rebotes e 4.5 assistências. O Boston Celtics, que eventualmente seria campeão naquela temporada, ficou com a primeira posição do Leste, enquanto o Cincinnati Royals (Sacramento Kings de hoje), foi o segundo do Oeste.

Robertson bateu na trave dois anos depois e terminou com 31.4 pontos, 11.0 assistências e 9.9 rebotes. No entanto, dessa vez, a NBA resolveu dar a ele o MVP, o único de sua carreira.

Então tá. Vamos para os exercícios de imaginação.

O Thunder tem time para terminar, pelo menos, no terceiro lugar do Oeste? Pessoalmente, acho que não. O elenco ficou mais encorpado após a troca com o Chicago Bulls e deu ao banco de reservas um pouco mais de profundidade, algo que não existia até então. Mas já se foram 60 jogos, restam 22. Tirar a essa diferença para o Houston Rockets, embalado, é tarefa pra lá de ingrata.

Nós sabemos que o Warriors vai sobrar e acabar em primeiro, enquanto o San Antonio Spurs segue na cola e então, vem o Rockets com 43 vitórias em 62 embates. Penso que nesse sentido, já era. Não dá. O Thunder venceu 35 de 60. Seriam, no mínimo, seis triunfos de diferença (imaginando que o Thunder vença seus próximos dois compromissos, enquanto o Rockets não enfrente ninguém pelo período para somar os mesmos 62 jogos).

Daí, vale lembrar que James Harden também faz uma temporada memorável e que, ocupa hoje um excelente terceiro lugar, com campanha bem diferente de 2015-16. O barbudo acumula médias de 28.8 pontos, 11.3 assistências (líder da NBA) e 8.0 rebotes no momento. Esses são números de MVP.

E se você quiser apimentar um pouco a coisa, é só olhar do outro lado que vai ver LeBron James liderando o Leste com o Cleveland Cavaliers. Não sei se você sabe disso, mas o sujeito está em sua 13ª temporada consecutiva com pelo menos 25 pontos por jogo. Isso sem contar com as 8.9 assistências (melhor marca da carreira) e 7.9 rebotes (beirando o mesmo).

Kawhi Leonard, mostrando uma evolução que talvez somente Gregg Popovich havia imaginado, faz o Spurs jogar pelos primeiros lugares. Leonard melhorou sua pontuação em cada uma das temporadas que jogou e hoje, sustenta cerca de 26.0 pontos e 6.0 rebotes.

Agora, vamos relembrar o que houve com outro astro.

O Los Angeles Lakers havia acabado de negociar Shaquille O’Neal com o Miami Heat antes de 2004-05, depois de problemas nos vestiários com Kobe Bryant. O então camisa 8 resolveu colocar a bola debaixo do braço e assumir todas as responsabilidades ofensivas do time, assim como Westbrook faz hoje.

Bryant finalizou 2005-06 com 35.4 pontos, 5.3 rebotes e 4.5 assistências, mas o Lakers não rendeu o suficiente e foi o sétimo colocado do Oeste, minando todas as suas chances. O prêmio ficou para Steve Nash. No ano seguinte, mesma coisa: Kobe brilhou, mas o Lakers ficou em sétimo. Somente em 2007-08, já com números um pouco mais “modestos” (28.4 pontos, 6.3 rebotes e 5.4 assistências), o já camisa 24 obteve a sua primeira e única premiação. O motivo principal? O Lakers liderou o Oeste.

Kobe teve temporadas de MVP, mas o time não ajudava. O Lakers ficava fora dos playoffs e, quando se classificava, estava longe dos primeiros lugares. E isso se repete com Westbrook.

É óbvio que eu gostaria de ver Westbrook como o MVP, mas a NBA tem uma definição clara para premiar: é o melhor jogador de um dos melhores times da liga. É aquele que faz a diferença para a sua equipe estar em tal posição. E é aí que a coisa muda. O Thunder está longe de figurar entre os melhores.

Westbrook domina a liga com o triplo duplo. Isso é inegável. Você pode até ponderar sobre seus erros de ataque e que ele é apenas um colecionador de números. Mas sua temporada é fabulosa o suficiente para calar críticos. Só não é o bastante para a NBA.

Vai ter que ficar para outra vez.

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