Artigo – O jogo mudou

A incapacidade de atletas e franquias em acertar um novo acordo coletivo de trabalho fez com que o primeiro minuto do mês de julho marcasse o início do locaute, a greve patronal da NBA. Diante de uma situação muito rara, a reação de fãs e especialistas foi “ressuscitar” a última vez em que a liga […]

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Dois anos de locaute? Jared Dudley e os jogadores se dizem prontos

A incapacidade de atletas e franquias em acertar um novo acordo coletivo de trabalho fez com que o primeiro minuto do mês de julho marcasse o início do locaute, a greve patronal da NBA. Diante de uma situação muito rara, a reação de fãs e especialistas foi “ressuscitar” a última vez em que a liga viveu um momento semelhante para poderem se situar. E, assim, o fantasma de 1998-99 voltou a nos assombrar.

O locaute ocorrido há 13 anos foi, de longe, o mais sério dos três – excetuando a atual – que a NBA já decretou. Durou de 1º de julho de 1998 até 20 de janeiro do ano seguinte. As negociações pouco produtivas entre as partes deixaram a temporada regular 32 partidas menor (caindo de 82 para 50 jogos) e sem um All Star Game.

Foi uma tragédia? Sim. Mas poderia ter sido pior. Neste momento, muita gente acha que uma temporada 2011-12 com 50 partidas é uma previsão otimista.

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O problema de se tomar a greve de mais de uma década atrás como parâmetro para a atual é bastante óbvio: o jogo mudou. O dilema, o panorama, os indivíduos envolvidos e as projeções são diferentes. E, embora os donos de equipes sejam aqueles que querem as alterações mais radicais (afinal, seus balanços acusam que 22 dos 30 times da liga operam no vermelho), os jogadores são quem realmente mudaram nestes 13 anos.

É sabido que um dos motivos (provavelmente, o maior deles) que levaram ao fim do locaute de 98 foi a necessidade dos atletas. Na oportunidade, a classe não acreditou ou se preparou para uma greve de longa duração e acabou pagando por isso. Com o passar do tempo, a maioria dos jogadores passou a ficar com suas finanças comprometidas, sem trabalho, e o grupo precisou abrir mão de exigências para acelerar um acerto.

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Outro aspecto que também pesou contra os atletas nas negociações de 13 anos atrás foi a falta de um discurso unificado. O ala Antawn Jamison (Cleveland Cavaliers) era novato em 1998 e disse em entrevista ao site da ESPN que ficou assustado com o fato de que jogadores falavam coisas diferentes, até mesmo contraditórias entre si. Não existia união e, assim, os executivos sabiam que uma hora o outro lado acabaria se dobrando.

O veterano também revelou que o sindicato faz recomendações aos jogadores há cerca de quatro anos visando o presente locaute. Entre elas, estaria o cuidado com os gastos e o planejamento financeiro. O que isso quer dizer? Os atletas sofreram na última paralisação, mas aprenderam uma lição. Eles se prepararam para este momento como nunca antes fizeram e estão prontos para defenderem os direitos que adquiriram nas últimas décadas.

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Para isso, o sindicato conta com alguns trunfos que nunca tiveram: um discurso unificado de resistência incondicional, um líder que conhece a situação pela qual passa (Derek Fisher já era profissional em 1998) e membros esclarecidos, que foram instruídos a cuidar daquele que mais poderá sofrer com um locaute longo – o bolso. Tudo isso é importante em uma batalha que não tem data para terminar.

No segundo dia de greve, o ala Kevin Durant (Oklahoma City Thunder) falou duro e cravou que os jogadores vão defender aquilo que possuem não importa quanto tempo vá ser perdido. O ala Jared Dudley (Phoenix Suns) levou a conversa ao extremo e, na semana passada, cogitou que o locaute pode durar até dois anos.

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Lógico que esta é uma declaração que não deve ser entendida literalmente. Quando tudo é um enorme ponto de interrogação, palavras e ações ganham pesos muito parecidos. Dudley não está fazendo uma previsão, mas enviando um recado para o “outro lado da quadra”: os atletas estão preparados para viverem situações extremas. Ameaças não surtirão efeito.

Além disso, os jogadores encontraram um grande aliado para sua batalha além do oceano. As ligas ao redor do mundo não são a NBA, mas estão mais organizadas e são mais vistas (inclusive nos EUA) do que eram no último locaute. Esta “evolução” fez com que a ideia de um astro como Deron Williams atuar na Turquia durante a greve se tornasse real. Mas não só isso: agora, os atletas não são mais reféns das franquias para arrecadar.

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Se toda essa mudança de postura dos jogadores é inegavelmente elogiável, não deixa de ser algo negativo para nós, aqueles que gostam da NBA. Na briga entre milionários e bilionários, como bem definiu Shaquille O’Neal semanas atrás, os fãs são quem saem perdendo. Atletas mais organizados e unidos são negociadores mais duros e, por isso, tendem a estender o locaute por mais tempo.

Qualquer lado de uma negociação tem suas ideias e reivindicações. Hoje, porém, os jogadores estão em uma posição muito superior do que em 1998-99 para fazer um jogo mais equilibrado contra os donos de franquias. Naquela época, o tempo pesou contra. Desta vez, os atletas estão prontos para virar a ampulheta quantas vezes forem necessárias. Nestes 13 anos, o jogo mudou.

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