Como a suspensão da temporada vai afetar o teto salarial da NBA?

Ricardo Romanelli explica prováveis impactos da paralisação da liga em ativos, investimentos e contratações dos times

Fonte: Ricardo Romanelli explica prováveis impactos da paralisação da liga em ativos, investimentos e contratações dos times

Uma das várias perguntas sem resposta deixadas pela atual paralisação da NBA é: como a suspensão da temporada e perda de receita dos jogos vai impactar as finanças das franquias – e, consequentemente, os valores do teto salarial da liga para elencos? 

Se você viu o especial sobre as regras salariais da NBA que produzimos na última offseason, sabe que o teto salarial e o limitar da luxury tax são calculados por uma fórmula derivada do total de receitas auferidas pela liga, o BRI (“Basketball Related Income”). Basicamente, o teto salarial sobe porque os faturamentos aumentam com contratos de TV, ingressos, venda de produtos licenciados, etc. 

O problema, evidentemente, é que a lógica inversa também vale: se não há jogos e as receitas caem, o teto salarial encolhe. 

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No início da atual temporada, a NBA previa um BRI acima dos US$8 bilhões, o que elevaria o teto salarial em cerca de 5% para alcançar patamar próximo de US$115 milhões. O nível da luxury tax ficaria em torno de US$139 milhões. Com a crise da pandemia do coronavírus, porém, a NBA já estima perdas entre US$1-2 bilhões – e, isso, caso consiga terminar a campanha de alguma forma. 

Ainda que a temporada seja encerrada, o prejuízo continua enorme: cerca de 40% das receitas da liga são provenientes de ingressos e demais ganhos em dias de jogos com consumo dos torcedores. Isso é um problema porque, como todos já sabem, nenhuma das soluções possíveis para finalização da competição envolve presença dos fãs nos ginásios. 

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Podemos não saber ainda o tamanho do buraco, mas já sabemos que vai afetar a próxima agência livre em cheio: todo e qualquer jogador que tiver uma opção de extensão vantajosa em seu contrato e planejava testar o mercado vai repensar a estratégia, em especial aqueles em busca de contratos máximos. Acontece que esses vínculos são calculados como percentual do teto salarial – ou seja, cairão. 

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Usemos Anthony Davis como exemplo, então. O astro do Los Angeles Lakers tem uma player option para receber US$28.7 milhões na próxima temporada, o que adiaria o final de seu contrato para 2021. Ele será elegível para um contrato máximo equivalente a 30% do valor do teto salarial, podendo chegar a 35% do montante projetado caso alcance os requisitos do famoso “supermax”. 

Com o teto salarial anteriormente projetado em US$115 milhões, o novo contrato de Davis começaria em torno de US$34.5 milhões e teria aumentos progressivos anuais. As novas projeções realizadas pelo analista Bobby Marks (ESPN), que estipulam o teto em apenas US$95 milhões, indicam que seu contrato passaria a ter salário inicial de US$28.5 milhões – ou seja, um valor que consegue ficar abaixo da sua player option atual. 

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A melhor opção para o craque do Lakers, portanto, seria aguardar até o ano que vem e apostar em uma rápida recuperação das receitas da liga. Mas esse é um cenário que precisa ser avaliado com cuidado pela NBA. Lembra do que aconteceu na offseason de 2016? Um aumento expressivo do teto salarial, na época, causou a assinatura de contratos desproporcionais que prejudicou várias franquias. 

Jogadores como Timofey MozgovBismack BiyomboEvan TurnerTyler Johnson e Solomon Hill nadam em dinheiro hoje – e pelo resto da vida, provavelmente – por conta da leitura equivocada de mercado de times naquele ano. 

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Se a redução do teto salarial pode prejudicar os planos de agentes livres, a total imprevisibilidade da luxury tax é a verdadeira preocupação das franquias. Essa multa incide sobre as equipes que extrapolam certo patamar salarial e serve para incentivar o equilíbrio financeiro-competitivo da liga. Se a taxa baixar na mesma proporção do teto, a previsão é que 25 times fiquem acima desse patamar. 

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Mais de vinte times pagando a taxa de luxo geraria um verdadeiro caos financeiro ao redor da liga, justamente em um momento de redução de despesas para seguir a baixa arrecadação. Numa situação comum, normal, é difícil termos mais do que sete times pagando a luxury tax. Equipes costumam fazem trocas para ficar abaixo desse limite, mas ninguém teria flexibilidade para absorver contratos no mercado. 

Por isso, mesmo que o teto salarial caia, a expectativa é que a NBA mantenha o limiar da taxa no próximo ano. Isso, entretanto, poderia gerar problemas com os jogadores, pois, na prática, os próximos agentes livres receberiam menos dinheiro do que nunca para que as franquias consigam controlar as suas finanças. Alguém vai sair prejudicado, no fim das contas. 

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O cenário é muito desafiador e o mais provável que a NBA e os jogadores sentem à mesa para negociar um acordo que reduza o prejuízo de todos, porque alguém terá que pagar essa conta. Em um período de tanta incerteza e partidas suspensas por motivos alheio à vontade de todos, uma negociação contenciosa seria o pior dos mundos.  

Que o bom senso prevaleça e não nos tire mais jogos além do que for absolutamente necessário. 

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