Impressões gerais da seleção brasileira de basquete em Goiânia

Analista de scouting Gabriel Andrade traz o relato das partidas do Brasil pelas Eliminatórias da Copa do Mundo

Fonte: Analista de scouting Gabriel Andrade traz o relato das partidas do Brasil pelas Eliminatórias da Copa do Mundo

Por Gabriel Andrade

Na última quinta-feira (22) e nesse domingo (25), a seleção brasileira de basquete jogou contra os fracos Colômbia e Chile pelas Eliminatórias da Copa do Mundo da China, de 2019.

Os jogos foram realizados em Goiânia, com duas vitórias tranquilas construídas no segundo tempo pelo Brasil. Contra o Colômbia, a seleção venceu por 84 a 49. Já no duelo contra os chilenos o triunfo foi por 83 a 58. Antes da partida desse domingo, em homenagem a Tiago Splitter, que se aposentou recentemente, todos os atletas da seleção brasileira foram para o aquecimento com a camisa 15 e com o nome do ex-jogador.

Neste texto darei uma analisada em aspectos importantes dessas duas partidas.

Parte tática

– O Brasil, de um modo geral, é um time mais versátil em termos de opções ofensivas que os adversários do grupo, principalmente no que diz respeito ao garrafão, com melhores arremessadores e finalizadores para este nível de competição. Anderson Varejão, com ótimo senso de posicionamento e certa agilidade pra alguém de seu tamanho, dominou os rebotes em ambas as partidas. No geral, os alas brasileiros também são mais fortes e a equipe mostrou melhor condicionamento físico, provável fruto de jogarem em uma liga mais competitiva. Contudo, destaca-se que nem sempre a seleção pareceu a mais atlética em quadra. Contra a Colômbia, era bastante nítido que o limitado adversário era mais ágil lateralmente e possuía jogadores mais explosivos, o que pode ser um duro choque. Afinal, passada a primeira fase, o nível atlético tende a subir muito, podendo causar grandes dificuldades.

– Vitor Benite ficou fora contra a Colômbia, mas voltou contra o Chile e mostrou a importância de se ter um arremessador dinâmico no elenco, que pode se movimentar por entre bloqueios, ser alvo em transição e que obriga a defesa a tomar mais decisões e se bagunçar toda. O ritmo de meia quadra foi outro contra os chilenos, ainda que devagar, a rotação do lado contrário falhava constantemente e sempre sobrava um chutador livre, por conta disto. Destaque também para o melhor aproveitamento de Lucas Dias em relação aos jogos anteriores. Petrovic está procurando um ala fluido, versátil e com chute pra longo prazo e não ninguém com melhores ferramentas para tal no NBB/Europa.

– Yago caiu um pouco em relação à primeira janela. Com muitos desperdícios de bola e explorado defensivamente pela altura/força, acabou minguando na rotação para Ricardo Fischer (irregular, mas conseguiu produzir) e Arthur Pecos. Destaque para o segundo, que apresentou ótima defesa pressionada quando acionado, além de achar bons passes. Tanto Fisher quanto Pecos, contudo, são arremessadores limitados sem muito porte físico, possuem dificuldade de quebrar a defesa quando exigem que criem a após o drible. Fora as infiltrações de Leandrinho, poucas são as soluções para este tipo de problema na seleção.

– Passes no garrafão: com oito assistências na primeira partida (sem jogar o último quarto), Anderson Varejão foi bastante usado como passador, inclusive até puxando contra-ataques, nesta última janela. O ataque em meia quadra foi muito melhor quando o jogo passou pelo pivô, que acionava jogadores cortando para a cesta em boa posição para bandejas, já que o Brasil tinha dificuldades de invadir o garrafão via pick-and-roll.

– Opção atlética: Varejão foi o melhor do Brasil dado o contexto geral, mas seu declínio atlético foi visto de algumas maneiras. Contra o Chile, especialmente no terceiro quarto, botaram Anderson para marcar fora do garrafão, em quadra espaçada ou no pick-and-roll alto, e foi altamente explorado neste tipo de jogada, sem velocidade lateral para a cobertura. Aí que faz falta um pivô mais atlético, aos moldes de Augusto Lima, como opção de elenco. Rafael Mineiro, que pouco jogou, pode ser essa peça em determinados momentos.

– Faltam alternativas fora do jogo de transição/bolas de três pontos no que foi mostrado até agora. Provavelmente isso só será muito exigido na próxima fase (possíveis enfrentamentos contra Canadá e República Dominicana).

– Jhonatan, Rafael Mineiro e Leandrinho. A equipe brasileira é lenta lateralmente e também possui poucas opções explosivas também para a defesa quanto para o jogo de meia quadra. Convocado pensando nisso, Gui Bento é muito pouco experimentado para o nível de exigência internacional. Posição bastante carente para o nível internacional como um todo, mas complicado de achar por estas terras também – por isso Alex segue tão importante.

Fora da quadra

– Organização: o público foi muito bom em ambos os jogos. No último, inclusive, 10.550 pessoas compareceram ao ginásio, recorde das Eliminatórias da FIBA, que anda tendo dificuldades de conseguir isso na Europa. A torcida deu um show, cantou e gritou o jogo inteiro, empolgada também por um animador bastante participativo. Telão com câmera do beijo e dancinhas estilo NBA estiveram presentes. Brindes distribuídos em interação entre animador e público, homenagem à ex-jogadora Marta Sobral (que foi aos prantos) e constante movimentação tornou o espetáculo bastante bonito. O ingresso muito barato ajudou, vista que houve divulgação não muito eficiente (visto em taxistas e motoristas de Uber que não sabiam do evento).

 

– Imprensa: de um modo geral enfrentou problemas no credenciamento. A CBB, responsável por esta parte, não respondeu ao e-mail de quem solicitou credenciais na FIBA, os voluntários pareciam mal preparados e quem foi apenas para o jogo de domingo (meu caso) teve que enfrentar o fato de que a empresa que confeccionava as credenciais já havia ido embora após a primeira partida.

– No fim do último quarto, a chuva forte veio e com ela, goteiras! O jogo ficou parado por cerca de 20 minutos, obrigando o animador a se virar no meio de tudo para manter o público animado (e fez bom trabalho nisso, diga-se).

– O placar eletrônico não diferenciava as equipes (e era muito pequeno). O site com o box score da FIBA ficou fora do ar no segundo quarto. As grades entre as cadeiras e a quadra se romperam em certa hora. A tabela, o piso e arena como um todo receberam uma pequena maquiagem, que não disfarçou muito as limitações do local.

– Conclusão: de um modo geral foi uma partida tranquila, vitória fácil da seleção brasileira, ótimo público e participação dele, mas com organização confusa e complicada. É elogiável o esforço da CBB em levar os jogos fora dos centros tradicionais do Brasil. Que venha a próxima janela!

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