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Gustavo Freitas analisa a temporada dos candidatos ao MVP

Fonte: Gustavo Freitas analisa a temporada dos candidatos ao MVP

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Você pode não compreender muito bem o que significa a imagem de quatro ex-pilotos de Fórmula 1 em um site de NBA. Ou, de repente, já entendeu o paralelo. E é justamente o que quero traçar aqui.

Em 1986, a categoria máxima do automobilismo tinha Ayrton Senna, Nelson Piquet, Nigel Mansell e Alain Prost, lutando pelo título, que no fim das contas, ficou com o francês. Mas a foto ficou famosa por trazer quatro ícones daquele esporte tão popular. Mais do que premiações, essa foto significou um marco na história. Eram não só grandes pilotos, mas principalmente sujeitos que marcaram gerações.

Prost era o mais técnico deles. Conseguia ser constante desde a largada até a bandeirada final. Sabia que, se um quinto lugar fosse o bastante, ele jamais lutaria pelo quarto e controlaria o seu ritmo até o fim. Foi assim que ele encerrou a carreira com quatro campeonatos. O francês tinha ao seu lado, ainda, o poder político.

Senna, que ontem faria 57 anos, era o mais jovem deles. Arrojado, destemido e imponente por característica, tornou-se queridinho. Era o que tinha o carro menos veloz, porém conseguia arrancar leite de pedra. Apenas para efeito de comparação, seu companheiro na época era o britânico Johnny Dumfries, que somara três pontos. O brasileiro, que venceu duas corridas naquela temporada, fez 55. Até então, Senna ainda não havia conquistado o seu primeiro título.

Claro que a pontuação daquela época era bem diferente dos números “bombados” de hoje. O vencedor levava nove, enquanto o segundo fazia seis e o terceiro, quatro, até chegar no sexto, que somava um. Era bem mais difícil conseguir uma virada nas últimas corridas. Durante algumas temporadas, a pontuação do último GP chegou a ser dobrada.

Piquet já era duas vezes campeão e fazia “jogos mentais” com o seu então companheiro, Mansell. O brasileiro, conhecido por ser ótimo acertador de carros, escondia informações do britânico e, não por menos, criou vários problemas internos. Mas a Williams sabia lidar com seus astros e separava toda a equipe e seus dados técnicos. Ainda assim, Piquet azucrinava Mansell apenas por prazer. E dava certo.

O “Leão” era rápido, mas inconstante e também tinha muito azar, como na última corrida de 1986. Senna já era carta fora do baralho. Piquet, Prost e Mansell, lutavam pelo título no GP da Austrália. O britânico liderava com 72 pontos, contra 65 de Prost e 63 de Piquet. Ele caminhava tranquilamente para o seu primeiro caneco. Herdou a liderança após o abandono de Keke Rosberg, pai do atual campeão, Nico. Mas na volta 63, seu pneu estourou. Piquet poderia garantir o título, porém a Williams o chamou aos boxes, temendo o mesmo destino de Mansell. Prost ultrapassou o brasileiro e conquistou o troféu.

A Fórmula 1 havia acabado de presenciar um ano inesquecível, em que alguns dos melhores pilotos de todos os tempos lutaram pelo título até os últimos instantes. Trinta e um anos depois, vejo isso acontecendo na NBA.

Claro que na Fórmula 1, o talento individual é mais importante. Mas isso sem contar com todos os avanços tecnológicos e que por trás de um piloto, existe uma equipe enorme, que controla cada um de seus passos na pista.

Sim, eu sei que o basquete é um esporte coletivo, mas os prêmios, nem sempre são.

Estamos vendo uma das melhores temporadas da NBA em sua história. E que o saudosista não tente misturar as coisas, por favor.

Westbrook Harden

James Harden, Russell Westbrook, LeBron James e Kawhi Leonard são hoje, os quatro maiores candidatos ao prêmio de MVP. Faltam cerca de 12 jogos para cada um deles e, pelo visto, não devemos ter grandes mudanças na classificação.

O Houston Rockets dificilmente perde o terceiro lugar, assim como não deve brigar pelos dois primeiros. São 49 vitórias e 22 derrotas. O San Antonio Spurs ainda briga pela ponta, mas o Golden State Warriors parece ter confirmado o mando de quadra em um eventual confronto nos playoffs. Por outro lado, o Oklahoma City Thunder segue lutando bravamente para superar seus oponentes e, assim, dar uma chance a Westbrook. Já o Cleveland Cavaliers vê o Boston Celtics bem de perto no retrovisor.

Eu já escrevi sobre isso há alguns dias aqui. Westbrook não possui chances de ser o MVP se o Thunder não conseguir um milagre na classificação. Não há precedentes para uma premiação a um jogador de um time que não esteja nos primeiros lugares de sua conferência. Podemos até questionar o fato de que a temporada que Westbrook faz é algo sobrenatural, com recordes a serem batidos e média de triplo duplo. Mas ainda assim, existe uma regra. Quinto ou sexto no Oeste não será o bastante. Nos 70 jogos disputados até aqui, o camisa 0 possui médias de 31.4 pontos (melhor marca da carreira), 10.5 rebotes (melhor marca da carreira), 10.3 assistências (segunda melhor), 1.7 roubada, 33.6% nos arremessos de três (melhor marca).

Daí, temos Leonard. Ele só será MVP se o Spurs superar o Warriors. Pode acontecer o que for, incluindo os recordes de Westbrook, que o prêmio fica com o ala. Basta o time texano terminar no primeiro lugar. Tarefa indigesta, eu sei. Mas veja o quanto esse sujeito evoluiu. Não se esqueça que o Spurs perdeu seu maior ícone (Tim Duncan) para a aposentadoria e, mesmo assim, está nas cabeças. Méritos de Gregg Popovich, claro, mas Leonard tem muito crédito nessa conta aí. Nos 63 jogos disputados, o ala possui médias de 26.0 pontos (melhor marca da carreira), 5.9 rebotes, 3.4 assistências (melhor marca pessoal), 1.9 roubada, 89.2% de aproveitamento nos lances livres (melhor marca) e 37.6% em três pontos.

Então, temos o MVP de todos os anos, LeBron James. Sim, você pode até odiar o cara. Não importa. Ele faz números de MVP há várias temporadas, queira você ou não. Sua equipe sempre está nos primeiros lugares. Porém, existem fatos que o “impedem” de ganhar mais uma vez, como essa sequência de pelo menos 25 pontos de média desde o seu segundo ano na liga. Em 63 jogos, James possui 26.2 pontos (melhor marca desde o retorno ao Cavs), 8.4 rebotes (melhor marca da carreira), 8.8 assistências (melhor marca da carreira), 1.3 roubada, aproveitamento de 54.3% nos arremessos (terceira melhor) e 38.5% nos tiros de três (segunda melhor).

Por fim, o “Barba”. Se você está cego por números, abra seus olhos agora e veja os de Harden. Sim, ele é quem tem mais erros de ataque e já bateu o recorde negativo, que era dele. Mas olha o que o Rockets faz. Era um time qualquer na temporada passada e agora luta pelos primeiros lugares. Tudo bem, seus números podem estar sendo inflados pelo esquema ofensivo de Mike D’Antoni, o mesmo que deu dois prêmios de MVP a Steve Nash. No entanto, o Rockets tornou-se um time de verdade. Em 71 partidas, Harden faz 29.4 pontos (melhor marca pessoal), 11.2 assistências (melhor marca pessoal), 8.1 rebotes (melhor marca pessoal), 1.5 roubada e 35.2% nos arremessos de três.

O fato é que, você pode torcer para qualquer um deles, o que é justo. Não podemos ignorar alguns detalhes que podem mudar o vencedor. Mas o mais legal de tudo é que estamos vendo a história sendo escrita. Isso, sem contar que Kevin Durant está lesionado e poderia estar na briga.

Existem argumentos favoráveis a todos eles, claro. E não seria nenhuma injustiça, ao fim da temporada, qualquer um deles eleito como o MVP. Assim como há 31 anos, em outro esporte, outra categoria, o vencedor nem sempre é aquele que brilha mais. Podemos apenas apreciar o restante da fase regular, pois igual a essa, nunca vi.

 

 

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