Layshia Clarendon responde declarações de Kelly Loeffler: “A WNBA é o movimento”

Atleta do New York Liberty respondeu às críticas da senadora e co-proprietária do Atlanta Dream sobre o movimento Black Lives Matter

Fonte: Atleta do New York Liberty respondeu às críticas da senadora e co-proprietária do Atlanta Dream sobre o movimento Black Lives Matter

Na última terça-feira (7), uma mobilização de atletas da WNBA contra a co-proprietária do Atlanta Dream, Kelly Loeffler, tomou conta das redes sociais. Cansada das declarações da senadora americana, a armadora do New York Liberty, Layshia Clarendon, resolveu responder diretamente.

Por meio do site The Undefeated, Layshia escreveu palavras fortes e verdadeiras para expor e derrubar as declarações preconceituosas de Loeffler. Ela inicia a publicação falando de um assunto que Kelly também repudia: LGBTQIA+. A atleta, que se identifica como uma pessoa não-binária, ou seja, não possui identidade de gênero, é uma das vozes mais ativas nesse sentido na WNBA, e destaca, principalmente, o fato da liga ser predominantemente negra.

“A WNBA é o movimento. Somos as mulheres que vêm fazendo o trabalho muito antes de ser socialmente aceitável ou legal. Somos os trans, os não binários, os não-conformados, as mulheres cis, as mulheres gays, em todo o espectro do que as mulheres podem ser – em uma liga predominantemente negra. Estamos começando a ver mulheres negras como Rachel Cargle, Brittany Packnett Cunningham e Raquel Willis terem o reconhecimento que merecem. Semelhante a nós, eles estão fazendo este trabalho. E, à medida que tentamos avançar em meio a uma pandemia global, o discurso em torno do retorno do esporte tomou o centro das atenções. Estou aqui para dizer que somos os líderes a seguir. Se você está dizendo Black Lives Matter (BLM) ou Say Her Name e não apoia a WNBA, está errando o ponto. Nós somos o movimento. Nós somos essas mulheres. Estamos de pé há anos. Antes de vermos murais de mulheres negras estampadas em todo o país, estávamos aqui. Conhecemos bem essa tendência histórica, as mulheres negras aparecem, fazem o trabalho e são encobertas ou completamente apagadas.”

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Clarendon, então, continua a sua carta aberta comparando Loeffler com o ex-proprietário racista dos Los Angeles Clippers, Donald Sterling. As palavras conservadoras e preconceituosas da senadora republicana deixaram as atletas e a WNBPA (Associação Nacional de Jogadores de Basquete Feminino) irritadas.

“Agora os olhos se voltaram para nós em um momento de turbulência, nosso momento de Donald Sterling. Kelly Loeffler é o anti-movimento. Ela representa o que acontece quando as pessoas escolhem a identidade da brancura em detrimento de todo o resto. Ela estava “ok” em ter nossa equipe. Ela estava “ok” em ter jogadoras que se manifestaram, como eu, mas ela não está “ok” quando estamos ganhando força.”

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Kelly Loeffler faz parte do círculo republicano de Donald Trump. Senadora conservadora, ela já se mostrou contra diversas situações que garantem os direitos humanos básicos, tal qual o presidente americano. Layshia explica, de forma didática, os motivos de estar contra as ações que a WNBA tem promovido.

“Kelly sabe que, neste momento, distanciar-se da WNBA e do BLM apenas fortalece o seu poder político. Ela sabe em que base está se apoiando. A mesma base que é abertamente odiosa e divisiva, tudo em nome da liberdade de expressão. O ditado “quando você está acostumado a privilégios, a igualdade parece opressão” não poderia ser mais pungente. É por isso que as pessoas não apenas entregam seu poder, ele tem que ser tomado. Em um momento em que pessoas negras e organizações políticas têm voz e impulso coletivos, não é de admirar que as pessoas tenham medo de votar se tornando uma luta justa, que as ligas esportivas começariam a dizer Black Lives Matter em vez de calar a boca e se tornar entretenimento, que poderíamos desembolsar a polícia e comece a distribuir recursos para ajudar as comunidades em vez de criminalizá-las. Isso deve ser aterrorizante para alguém que não quer abrir mão do poder que detém sobre as pessoas marginalizadas.”

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Layshia continua explicando sobre a necessidade de voltar a jogar basquete, já que a WNBA retorna no próximo dia 25 de julho.

“Parte do motivo pelo qual queríamos voltar e jogar era unir as pessoas, era inspirar, continuar a aumentar a conscientização e criar mudanças sociais através do jogo, como sempre fizemos. Essa sempre foi uma motivação minha para jogar basquete. Amo o jogo, mas também a plataforma que me proporciona o jogo. Para mim, não há um sem o outro. Para Kelly, chamar nossa unidade de divisória é uma tática antiga. Também está enraizado em uma avaliação profundamente hipócrita e superficial do que os esportes têm sido na política americana desde o seu início. Trocar a bandeira pelo nome de Breonna Taylor não remove a política, ela a inflama. Aqui estamos novamente, falando sobre a bandeira, em vez das vítimas de brutalidade policial, assédio, encarceramento em massa, condenação injusta, violência armada e muito mais”, completa.

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A atleta, que já fez parte do elenco do Atlanta Dream entre 2016 e 2018, comentou sobre alguns momentos que teve com Kelly Loeffler e que a viu sendo uma boa pessoa, aparentemente. Dentre as situações, Layshia chegou a apresentar sua família.

“Eu compartilhei refeições com Kelly, pisei em sua casa. Eu a apresentei à minha esposa e dei meu coração pela equipe que ela possui, torcendo à margem. Fiquei orgulhosa ao vê-la homenagear Stacey Abrams na quadra central, doar vendas de ingressos à Planned Parenthood e lançar uma campanha do Pride que me fez sentir vista. Embora seus comentários sobre o BLM não sejam novos, foi chocante e doloroso vê-la transformar essa liga em um momento para seu próprio ganho político. Esses tipos de pessoas podem ser mais difíceis de identificar a princípio. São os motoristas de ônibus, os dentistas, os Kelly Loefflers, os prefeitos, o diretor da escola de seu filho, o professor, o técnico de basquete do time da AAU que têm essas visões e podem ser camaleões. Eles sorriem para o seu rosto, mas vão às urnas e votam contra seus interesses em todas as categorias”.

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Em outro parágrafo, a atleta chamou a atenção para o fato de que, devido à falta de visibilidade feminina, as mulheres lutam por si mesmas na WNBA. Além disso, Layshia comentou sobre a normatização do discurso de ódio pelo presidente Trump, que negligencia e faz pessoas negras, asiáticas, com deficiência, imigrantes, LGBTQIA+, etc., serem piada e alvo de violência.

“Kelly Loeffler conseguiu expressar abertamente seus pontos de vista, sem repercussões, desde que, porque, primeiro, somos uma liga cheia de mulheres negras, por isso caímos no radar. LeBron James espirra e as pessoas prestam atenção. Maya Moore se afasta do basquete para tirar um homem da prisão e é um relâmpago na panela. Nossa falta de visibilidade e investimento da mídia nacional nos leva a lutar por nós mesmos. O outro fator é que Donald Trump normalizou o discurso de ódio. Você já viu isso de prefeitos a senadores e donos de empresas, desde gozar com pessoas asiáticas, pessoas com deficiência, pessoas negras e pessoas sem documentos. Ele normalizou o ódio neste país e chamou de liberdade”.

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Por fim, Layshia agradeceu a declaração da comissária da WNBA, Cathy Engelbert, mas deixou claro que uma nota de repúdio não é a solução para o caso.

“A declaração da WNBA foi uma boa declaração, mas não é suficiente. Não basta dizer que ela não faz parte da Assembleia de Governadores porque ela ainda é co-proprietária da equipe. As jogadoras já disseram: ela não se alinha à nossa liga.”

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*Texto traduzido. O original pode ser conferido aqui.

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