NBA 2K19 – Campeão joga bonito, mas comete turnovers

O leitor Diogo Santos analisou o novo game da 2K Sports

Fonte: O leitor Diogo Santos analisou o novo game da 2K Sports

Por Diogo Santos

A edição 2K18 de NBA foi um verdadeiro marco: Trouxe novas mecânicas, física mais apurada, a recriação individual do estilo de jogo de praticamente todo jogador da liga – e de todas as estrelas – e, infelizmente, o massivo uso do VC.

VC é a famosa moeda do jogo necessária para evolução do seu personagem no modo MyCareer (provavelmente o modo mais famoso, querido e jogado), para compras de packs de cartas no modo MyTeam (que esse ano traz uma valorosa premiação de U$250.000,00) e para pequenos boosts no modo MyLeague/MyGM. Praticamente toda ação no jogo gera VC, o que deveria ser o suficiente para conseguir a evolução necessária no modo de jogo de sua preferência – bem, spoiler: não é. Se você quiser que seu personagem seja competitivo nas quadras online, ou ao menos se equipare as estrelas da liga, prepara-se para gastar um bom dinheiro.

Enquanto na edição 2K18 era praticamente impossível chegar ao overall 80 sem investir dinheiro real (e MUITO, na verdade), 2K19 é um pouco mais generoso: No modo MyCareer, principal foco dessa análise, é possível ganhar em média 1300VC por partida – bem diferente dos 800-1000VC da edição passada; ademais, agora há uma série de itens estéticos gratuitos, como o corte de cabelo e estilos de jogo (jump shot, movimentos no post, entre outros).

O ponto é: Esse valor nunca é suficiente. Para alcançar o nível 70, você precisará de cerca de 100.000VC – bem, faça as contas. Você precisará jogar cerca de 77 partidas completas para ter um jogador inferior ao Kosta Koufos, por exemplo. É bastante cansativo e inglório, além de injusto. Por que injusto? Porque você terá um personagem consideravelmente inferior ao de muitos jogadores online – e isso chega a ser engraçado, por motivos não tão divertidos, já que você terá grande dificuldade de conseguir jogar partidas nas quadras do neighborhood – o modo Pro-Am, já que os jogadores, ao verem seu nível, recusam-se a entrar em uma partida com você como parte da equipe. É a segregação e o preconceito contra os mais fracos chegando ao mundo virtual de NBA – mas hey, meritocracia existe, não é mesmo?

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Uma das novidades da edição de 2018 foi o neighborhood, uma espécie de área de lazer e de atividades que reunia todos os jogadores do modo MyCareer online. Essa área fora mantida, mas a 2K ouviu os pedidos da comunidade e deixou todas os locais da vizinhança mais perto. Você não vai gastar mais 10 minutos só para chegar a uma loja ou as quadras. Mais importante, o famigerado e desnecessário (claramente um produto de marketing) Gatorade Training Center não é mais tão necessário. Ao invés de recuperar sua energia entre os jogos, ele apenas dá um boost nas suas habilidades. Aqui, assim como em outras partes do jogo (como os centros de treinamento e a loja da NBA) fica claro que a 2K decidiu reaproveitar os modelos da edição passada. É literalmente o mesmo modelo, sem tirar nem por. Faltou esmero e deixa uma incômoda sensação de que você está jogando um patch de NBA 2K18, e não um produto realmente novo.

De novidades, agora há desafios diários (que premiam com o ganho de VC, mas que são quase sempre muito difíceis de serem completados), um modo cages, que representa o basquete de rua (e traz um sopro bem vindo de novidades, com um estilo de jogo bastante descompromissado e com situações surreais, como uma quadra de trampolins) e o problemático cassino. Como o nome deixa a entender, refere-se a um local onde é possível realizar apostas em troca de premiações. Uma das melhores opções é apostar 500VC e ganhar o triplo disso, jogando partidas 3×3 – mas como, tendo um personagem de baixo nível que ninguém quer jogar junto? É dureza, e por isso problemático. A comunidade de NBA 2K é extremamente segregadora e nada convidativa para novos jogadores ou para casuais, que só querem se divertir em uma partida rápida. Outro problema do cassino (que era uma das apostas de melhoria dessa versão) refere-se a roleta de prêmios. A cada 24h é possível rodar a roleta e ganhar prêmios, como VC, itens de aparência, entre outros. O problema é que fica tão, mas tão cheio de jogadores que é praticamente impossível conseguir uma vaga para rodar a roleta. Pense no amor de SP por filas, agora multiplique isso por jogadores no mundo inteiro e entenderá o tamanho do problema.

O modo história apresenta melhorias, com o roteiro mais preciso e coeso da série e um protagonista que apresenta uma personalidade mais realista, trazendo maior interesse para sua trajetória. Iniciar como um talento não draftado, tendo que iniciar sua carreira na China e na G-League, é uma bem vinda mudança de visão, permitindo que os jogadores tenham maior visão sobre as dificuldades da vida de um jogador de basquete – e entender que nem tudo é o glamour da NBA. O uso de atores reais é bem explorado, com NPC’s que ajudam o protagonista a enxergar além do próprio umbigo – destaque para Ricky Whittle, protagonista de American Gods, como um ex-jogador da NBA que agora é seu parceiro de time na G-League. Como ponto negativo, mantém-se a péssima mania da 2K de ignorar toda a sua campanha da edição anterior – algo que parece claro, se repetirá na próxima edição. Enquanto em FIFA você tem a jornada de Alex até se tornar um craque de futebol, em NBA 2K você tem apenas uma boa história, que peca em trazer a grandiosidade de uma jornada. Após algumas poucas horas, torna-se apenas o modo de jogo MyCareer de sempre, sem conteúdo de história, o que é uma pena.

Enquanto fora das quadras a série percorre um perigoso caminho de tornar-se um produto elitista e pouquíssimo acessível, dentro das quadras ela nunca esteve tão bem. Graficamente, é perceptível a evolução das reações dos jogadores, da textura dos uniformes e de detalhes de iluminação, como suor e e o reflexo da bola e dos jogadores. Negativamente, há jogadores sem a fisionomia real (Nikola Mirotic, por exemplo, não é de maneira alguma parecido com o jogador) e alguns bugs de mecânica, como roubadas de bola invisíveis e quique da bola mais acelerado que o natural.

Se na parte gráfica houve evolução, são nas mecânicas que NBA 2K19 realmente mostra-se como o verdadeiro MVP que é. Inovando o sistema de táticas, nenhuma outra edição havia apresentado um balanço tão positivo entre defesa e ataque. Esqueça as infiltrações imparáveis e os arremessos impossíveis – NBA 2K19 trouxe as ferramentas necessárias para a defesa de qualquer jogada. As defesas agora trabalham por zona, o que cria uma série de novas preocupações para jogadores que carregam a bola – se você passar com a bola próximo a um marcador de elite, como Kawhi Leonard, a chance de vê-la roubada é imensa. Grandes defensores agora usam o corpo como barreira na infiltração de forma natural e acompanham o movimento do atacante, nunca cedendo espaço – e se você preferir, ainda é possível ajustar as táticas para que o jogador da sobra sempre feche o garrafão em uma infiltração. Ficou MUITO mais difícil atacar a cesta, o que exige uma grande troca de passes para conseguir a pontuação. Nenhuma outra edição privilegiou tanto defensores de elite quanto essa, a ponto de que vale mais a pena trocar um bom jogador ofensivo por um de mesmo nível defensivo – algo impensável em qualquer outra edição.

Enquanto atacar a cesta tornou-se mais difícil, os arremessos se tornaram um verdadeiro martírio. Nem pense em arremessar com qualquer um que não os arremessadores de elite sem conseguir o espaço necessário para isso. A marcação pesada em cima do arremessador diminui o equilíbrio e ocasiona em aros amassados como nunca antes. A estratégia de jogo e o uso de táticas e rotações nunca foi tão importante – por consequência, o jogo no garrafão ganhou novo brilho. O jogo do Post é uma ferramenta mortal de ataque, principalmente com os unicórnios atuais. Se a marcação dobra, é possível encontrar sempre um arremessador livre. Jogadas de pick and pop tornaram-se as mais fatais do jogo, pela capacidade do seu pivô em arremessar de 03 e a tendência das defesas em protegerem o garrafão – atitude louvável da 2K em corrigir isso, haja visto o que se tornou o jogo competitivo da edição 2018 (olhem a final do mundial e entenderão o que quero dizer: https://www.twitch.tv/videos/301798924). O melhor das mecânicas é que nunca antes houveram tantas opções de ajustes táticos dentro das partidas, sendo fácil mudar as estratégias com o toque de um botão – e acredite, será necessário. A IA dinâmica aprende seu modo de jogo e tende a defender com maior afinco suas principais jogadas, o que exige constante mudança de estilo de jogo.

Se você é fã de NBA, será extremamente satisfatório repetir com perfeição táticas do seu time. É fácil recriá-las dentro do jogo e os jogadores respondem de forma precisa a todas mudanças propostas. É lindo ver dobras de marcação acontecerem de forma natural e instantânea, algo impensável a poucas edições.

Uma novidade positiva da edição 2K19 é o Takeover, que pode ser traduzido como DOMINE A PORRA TODA! Cada jogador tem uma série de requisitos para ativar seu Takeover (como acertar cestas de três sendo marcados, aplicar um ankle breaker, entre outros) e, quando ativado, ele ganha uma série de melhorias momentâneas, além de animações exclusivas. É fácil reconhecer jogadas próprias dos melhores jogadores – ativar o Takeover do Harden, por exemplo, garante uma série de dribles rápidos, infiltrações quase imparáveis e arremessos certeiros. Um takeover de jogador defensivo torna-o uma verdadeira muralha. Jogadores 2way acabam com o jogo, por conseguirem penalizar o adversário tanto no ataque quanto na defesa.

A narração mantém o padrão de qualidade da série, com bem vindas adições de quotes e histórias dos jogadores – mas é um pouco preocupante a quantidade de áudio e frases reaproveitadas de outras edições, principalmente os comentários de Kenny “The Jet” Smith.

Enquanto dentro de quadras, em sua estrutura de jogabilidade e mecânicas, NBA 2K19 brilha como nunca, é na injustiça da curva de evolução e aprendizado que ele deixa de ser um jogo imperdível, tornando-se, no máximo, um jogo recomendável – a não ser para os verdadeiros apaixonados por basquete, como acredito ser o nosso caso. Para nós, NBA 2K19 é a melhor edição desde NBA 2K14.

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