O Jogo em Números – Edição II

Será que LeBron James tem razão para reclamar tanto das arbitragens sobre faltas?

Fonte: Será que LeBron James tem razão para reclamar tanto das arbitragens sobre faltas?

LeBron James e as arbitragens

Não é difícil ver LeBron James reclamando das arbitragens durante os jogos nos últimos tempos. Uma das grandes queixas do craque do Cleveland Cavaliers é que os juízes têm critérios mais rígidos para marcar faltas nele do que em outros astros da liga. De fato, ele vem registrando a menor média de lances livres desde sua temporada de estreia na NBA. Mas será que o ala tem razão?

É difícil dizer, mas, analisando alguns números, podemos ver como mudanças um pouco suspeitas surgiram nos últimos anos quando nós relacionamos as taxas de finalizações em torno da cesta e lances livres de LeBron. No quadro a seguir, nós temos as médias da carreira inteira do astro – excetuando apenas a campanha de calouro, que destoa em termos estatísticos por ser seu começo profissional – em arremessos a 1.5 metro da cesta (FG/5f), na área restrita (FG/AR) e lances livres cobrados por jogo (FT/jogo).

Temporada

FG/5f FG/AR FT/jogo
2004-05 7.3 7.0

8.0

2005-06

8.9 8.5 10.3
2006-07 7.6 7.3

9.0

2007-08

8.7 8.5 10.3
2008-09 7.0 6.8

9.4

2009-10

7.2 7.1 10.2
2010-11 6.7 6.3

8.4

2011-12

7.0 6.7 8.1
2012-13 7.6 7.1

7.0

2013-14

7.8 7.5 7.6

2014-15

6.9 6.6 7.7

2015-16

9.3 9.0

6.5

2016-17 8.6 8.3

7.2

2017-18 8.7 8.4

6.0

Observem que as últimas três temporadas registram marcas que estão entre os cinco maiores volumes de arremessos em torno da cesta e na área restrita da carreira do ídolo. No entanto, os lances livres seguiram em caminho oposto: são três das quatro médias mais baixas que já teve. A diferença é de mais de quatro lances livres por jogo, por exemplo, quando comparamos hoje e 2008.

Uma explicação natural para isso seria a idade de LeBron, mas, como sabemos, o problema não é esse. Estamos falando de uma máquina, um extraterrestre. Na verdade, essa versão cai por terra quando notamos que, nas três últimas temporadas, ele teve melhor aproveitamento de arremessos em torno da cesta e na área restrita do que tinha em 2006 e 2008.

Mas essa disparidade talvez seja ainda mais visível de forma simples em outro dado: o free throw attempt rate (FTr). Essa estatística mede o número de lances livres cobrados por cada arremesso de quadra que o jogador tenta – e traz uma constatação bastante estranha na atual temporada.

Temporada

FTr   Temporada FTr
2004-05 0.378 2011-12

0.429

2005-06

0.447 2012-13 0.395
2006-07 0.432 2013-14

0.432

2007-08

0.470 2014-15 0.413
2008-09 0.472 2015-16

0.347

2009-10

0.506 2016-17 0.395
2010-11 0.446 2017-18

0.323

LeBron nunca arremessou tão poucos lances livres por cada tiro de quadra tentado. E isso na quarta temporada em que mais tenta arremessos na área restrita. Pode ser coincidência, mas tudo indica que algo mudou entre o craque e as arbitragens.

Os seletos grupos de Cousins

DeMarcus Cousins quebrou a banca na última segunda-feira (22): o pivô liderou a vitória do New Orleans Pelicans sobre o Chicago Bulls anotando 44 pontos, 24 rebotes e dez assistências. Foi a primeira ocorrência de um “40-20-10” desde 1972, com Kareem Abdul-Jabbar, e só três outros atletas tiveram performances com tais números na história da liga: Wilt Chamberlain, Oscar Robertson e Elgin Baylor.

Nada da atualidade se assemelha a isso, então vamos ter que “dividir” o feito para buscar paralelos nos dias de hoje.

  1. Além de Cousins, só três jogadores em atividade na NBA possuem atuações de 40 pontos e 20 rebotes na carreira: Anthony Davis (3), Dwight Howard e Karl-Anthony Towns. Aliás, o pivô do Pelicans já fez isso em três oportunidades.
  2. Dezoito atletas ativos na NBA já tiveram uma performance de 40 pontos e dez assistências na carreira, com destaque para James Harden (16), Russell Westbrook (14) e LeBron James (10). Cousins é o único jogador de garrafão entre esses dezoito.
  3. Ah, e antes que você ache que esqueci: Cousins é o único atleta em atividade a ter 20 rebotes e dez assistências no mesmo jogo.

Como Okafor (não) se encaixa no Nets

O Brooklyn Nets foi bastante elogiado pela aquisição via troca de Jahlil Okafor. Muitos consideravam que o pivô era uma boa aposta com baixo custo e risco. Essa segunda parte é o alento dos nova-iorquinos, pois, até agora, seu encaixe no time tem sido desastroso: ele jogou pouco tempo, sem destaque e seu estilo de jogo é radicalmente diferente do que a equipe adota.

Okafor não vem jogando porque, mais do que não ajudar, atrapalha. Basta buscar algumas estatísticas e o impacto negativo fica evidente. Aqui temos a comparação de ritmo (posses de bola por 48 minutos), eficiência defensiva e ofensiva (ou seja, pontos anotados e sofridos a cada 100 posses de bola) geral do time e no tempo em que o jovem está em quadra.

X

Ritmo Eficiência ofensiva Eficiência defensiva

Geral do Nets

101.8 103.0 106.3
Com Okafor 96.0* 90.6*

112.0*

Diferença -5.8 -12.4

5.7

*Pior marca do elenco inteiro do Nets (atletas com mais de um jogo)

É claro que o pequeno número de jogos e tempo de quadra constitui uma amostra pouco confiável, mas os extremos apresentados pelos números – suas marcas são realmente destoantes em relação ao elenco regular – evidenciam que o encaixe do lento pivô em uma das ofensivas mais rápidas da NBA tende a ser tão complicado quanto alguns temiam.

O calibre do novato Markkanen

Neste mês, Lauri Markkanen virou o calouro a converter 100 arremessos de três pontos mais rápido na história da NBA: precisou de somente 41 jogos. Esse é um recorde que reflete como os tiros de longa distância se tornaram parte importante do basquete atual. O jogador do Chicago Bulls foi apenas o 41º novato de todos os tempos a alcançar a marca centenária na liga.

O ala-pivô finlandês alcançou essa façanha arremessando 6.6 bolas de três pontos em média, o que corresponde a 51.2% dos seus arremessos tentados por partida. Apenas seis dos outros 40 estreantes que fizeram 100 cestas de longa distância em sua temporada de estreia tiveram uma maior proporção do que Markkanen, como mostra a tabela abaixo (número de arremessos por partida):

Novato

Temporada Arremessos de três Arremessos totais Proporção
Lauri Markkanen 2017-18 6.6 12.9

51.2%

Tim Hardaway Jr.

2013-14 4.4 8.5 51.7%
Jason Williams 1998-99 6.5 12.3

52.8%

Juan Carlos Navarro

2007-08 5.3 9.3 57.0%
Matt Maloney 1996-97 4.6 7.5

61.3%

J.R.
Bremer

2002-03 4.5 7.3 61.6%
Rudy Fernandez 2008-09 5.1 8.1

63.0%

O único calouro com uma quantidade de arremessos de três pontos por jogo comparável ao que o atleta de 20 anos exibe hoje foi Jason Williams, mas ele tinha baixíssima eficiência: converteu só 31.0% de suas tentativas na primeira campanha na NBA. Esse é o pior aproveitamento entre os 41 novatos estudados, na verdade.

Markkanen vem acertando 37.3% dos seus tiros na atual temporada e, julgando os números, pode dizer que está muito bem. Só dois dos jogadores relacionados no quadro terminaram a temporada de estreia com um aproveitamento superior ao atual do jovem europeu: Fernandez (39.9%) e Maloney (40.4%).

Os melhores armadores reboteiros

Na primeira edição da coluna, nós falamos um pouco sobre a “qualidade” dos rebotes dos principais reboteiros da liga. Aquele caso, naturalmente, tornou-se um estudo de pivôs. Mas aqui vai um exercício interessante: e se fizéssemos a mesma análise, mas, agora, observando uma posição que não tem um grande volume no quesito. Quais são as características dos rebotes dos melhores armadores da NBA?

Essa avaliação, primeiro, buscou os armadores de ofício da liga que possuem média superior a quatro rebotes por jogo. São 12 atletas, como a tabela abaixo descreve. E, para avaliar suas “qualidades” como reboteiros e dos rebotes que pegam, vamos trabalhar com mais do que um critério: além da taxa de rebotes contestados, que já conhecemos, aqui vai ser abordado também as “chances de rebote” (ou seja, a porcentagem de momentos em que o armador está em condições de pegar um rebote e efetivamente coleta-o) e a taxa de rebotes (porcentagem de rebotes de sua equipe que um atleta coleta quando está em quadra).

Então, sem mais enrolação, vamos aos dados:

Armador

Rebotes / jogo Rebotes Cont. (%) Chances de rebote (%) Taxa de rebote (%)
Russell Westbrook 9.6 19.4 58.1

14.9

Lonzo Ball

7.1 24.1 53.2 11.2
Kyle Lowry 6.0 21.2 47.7

10.3

Chris Paul

5.9 16.4 51.9 10.3
Stephen Curry 5.2 20.5 44.9

8.8

Dejounte Murray

4.9 25.1 50.3 14.6
Damian Lillard 4.8 16.3 48.3

7.2

Kris Dunn

4.6 17.9 46.0 8.3
Jrue Holiday 4.4 25.7 47.0

6.6

Ricky Rubio

4.2 13.8 51.7 8.2
Goran Dragic 4.1 25.9 43.6

7.5

Elfrid Payton

4.1 23.2 47.4

7.6

Para começar, destaque para dois nomes na lista: Kyle Lowry e Chris Paul. Dos 12 jogadores relacionados, eles são os únicos com menos de 1.90m. Bem menos, na verdade: ambos são listados com 1.83m. Só o fato de estarem aqui – e estão entre as cinco maiores médias brutas – já é um feito impressionante.

E vejam que Lowry e Paul surgem muito bem também nas estatísticas avançadas. Ambos estão entre os cinco jogadores com maior taxa de rebotes da relação, sendo que o primeiro destaca-se nos rebotes contestados (um dos seis acima de 21%) e o segundo em chances de rebotes (um dos cinco com mais de 50%). Para a estatura que possuem, seus números são simplesmente extraordinários.

Westbrook, compreensivelmente, é soberano na lista em média, chances e taxa de rebotes. Mas observe que sua taxa de rebotes contestados é baixa, mesmo quando comparada apenas a de armadores. Isso significa que muitos acontecem “na boa”, aproveitando bloqueios de pivôs para serem pegos com espaço e sem concorrência. Não é uma crítica ao atual MVP da liga, só uma constatação.

Aqui, então, vamos atrás dos PGs reboteiros mais completos. E são dois talentosos jovens que destacam-se: Lonzo Ball e Dejounte Murray. Ambos são os únicos que combinam mais de 20% de rebotes contestados, 50% de chances de rebotes e 10% de taxa de rebotes.

O calouro do Los Angeles Lakers possui uma maior média e aproveitamento das chances que aparecem de coletar rebotes, enquanto o recém-efetivado titular do San Antonio Spurs é mais eficiente brigando por rebotes e tem uma participação maior (na verdade, quase igual a de Westbrook) nos rebotes pegos pelos texanos quando está em quadra.

 

“O Jogo em Números” é uma coluna quinzenal em que o Jumper Brasil abraça a revolução estatística da NBA. É uma abordagem diferente do habitual, que parte de dados brutos, avançados e históricos para oferecer uma nova visão e interpretação sobre o que acontece e aconteceu na liga.

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