O 50-40-90

Steve Nash coloca ponto final em uma das carreiras mais brilhantes dos últimos anos

Fonte: Steve Nash coloca ponto final em uma das carreiras mais brilhantes dos últimos anos

Eu sempre fui entusiasta de pivôs, jogadores de mais força do que jeito. Para se ter uma ideia, alguns dos meus maiores ídolos na NBA são Dennis Rodman, Shaquille O’Neal, Theo Ratliff, além dos mitos Danny Fortson e Jamie Feick. Porém, isso nunca me impediu de gostar de jogadores de outras posições. 

No início desta semana, a NBA perdeu um dos melhores jogadores dos últimos anos para a aposentadoria, o armador Steve Nash. Sua belíssima carreira — que conta com dois prêmios de MVP — só foi interrompida por conta das inúmeras contusões. Mas o canadense deixa a liga liderando um grupo seleto de excepcionais atletas especialistas em arremessos, os 50-40-90.

Muita gente já sabe do que estou falando, mas para quem ainda não tem esse tipo de conhecimento, apenas seis jogadores — desde a criação da linha de três pontos — conseguiram índices superiores a 50% de aproveitamento nos arremessos de quadra, 40% nos de longa distância, e 90% nos lances livres.

Nash lidera esse “pessoalzinho” com quatro temporadas atingindo tais números. Para se ter uma noção desse absurdo, o ex-camisa 13 tem como companheiros nomes como Larry Bird (duas vezes), Reggie Miller, Mark Price, Dirk Nowitzki, e mais recentemente, Kevin Durant. Destes, apenas Nowitzki (2006-07) e ele (2005-06) conseguiram o MVP no mesmo ano.

Para um jogador se qualificar, basta acertar os singelos números: 300 cestas de quadra, 55 de três, e 125 lances livres.

Acredite se quiser: Nash poderia, com apenas dois lances livres convertidos, ter cinco temporadas consecutivas dentro deste grupo. O fato ocorreu em 2006-07, quando ele obteve 53.2% de chutes de quadra, 45.5% nos três pontos e 89.9% na linha. E em 2012-13, ele ficou próximo de atingir tais marcas. Sensacional, não?

Jogador Temporada  J FG FGA FG% 3P 3PA 3P% FT FTA FT% PTS PPJ  
L. Bird 86–87 74 786 1.497 52.5% 90 225 40% 414 455 91% 2.076 28.0  
L. Bird 87–88 76 881 1.672 52.7% 98 237 41.4% 415 453 91.6% 2.275 29.9  
M. Price 88–89 75 529 1.006 52.6% 93 211 44.1% 263 292 90.1% 1.414 18.9  
R. Miller 93–94 79 524 1.042 50.3% 123 292 42.1% 403 444 90.8% 1.574 19.9  
S. Nash 05–06 79 541 1.056 51.2% 150 342 43.9% 257 279 92.1% 1.489 18.9  
D. Nowitzki 06–07 78 673 1.341 50.2% 72 173 41.6% 498 551 90.4% 1.916 24.6  
S. Nash 07–08 81 485 962 50.4% 179 381 47% 222 245 90.6% 1.371 16.9  
S.Nash 08–09 74 428 851 50.3% 108 246 43.9% 196 210 93.3% 1.160 15.7  
S. Nash 09–10 81 499 985 50.7% 124 291 42.6% 211 225 93.8% 1.333 16.5  
K. Durant 12–13 81 731 1.433 51% 139 334 41.6% 679 750 90.5% 2.280 28.2  

Legenda:

J – Jogos
FG – Arremessos convertidos
FGA – Arremessos tentados
FG% – Porcentagem de arremessos convertidos
3P – Arremessos de três pontos convertidos
3PA – Arremessos de três pontos tentados
3P% – Porcentagem de arremessos convertidos
FT – Lances livres convertidos
FTA – Lances livres tentados
FT% – Porcentagem de lances livres convertidos
PTS – Pontos totais
PPJ – Pontos por jogo

Para alguns, Nash não defendia bem — o que de alguma forma não deixa de ser verdade — mas ele era o típico caso de quem compensava do outro lado. Com a bola nas mãos, ele sabia fazer a diferença e literalmente, colocava seus companheiros de cara para a cesta. 

A contribuição ofensiva estava acima dos números simples e frios. Entre 2001-02 e 2009-10, Nash participou de nada menos que oito campanhas com suas equipes liderando a liga em pontuação.

Passagem pelo Mavericks

Dois anos após um início devagar no Phoenix Suns, Nash foi para o Dallas Mavericks após uma troca. Ele demorou um pouco a desenvolver seu melhor jogo e o então técnico da equipe, Don Nelson, foi bastante criticado pela decisão de apostar em um armador “comum”.

Apenas em 2000-01, ele finalmente mostrou traços de um jogador brilhante e na temporada seguinte, aos 27 anos, ganhou uma vaga no Jogo das Estrelas pela primeira vez.

Sua parceria com Dirk Nowitzki e Michael Finley foi essencial para o crescimento da franquia. Até então, o Mavs ficava longe das primeiras posições do Oeste. A eliminação precoce em 2003-04 para o Sacramento Kings o fez pensar no futuro.

Volta ao Suns

Em julho de 2004, Nash já era considerado um dos grandes armadores da época. Ele somara duas convocações para o All Star game, e era agente livre. Ao contrário do que se possa imaginar, o ex-jogador jamais teve um dos maiores salários da liga. Nash assinou com o Suns com a promessa de ter um time jovem voltado para que ele pudesse construir as jogadas em velocidade na transição. O efeito foi imediato. 

Logo de cara, o Suns venceu 62 das 82 partidas, conseguiu o primeiro MVP, e carregou colegas para o Jogo das Estrelas. Não que Amare Stoudemire e Shawn Marion nunca merecessem, porém ele foi determinante a esse ponto.

O famoso estilo Run and Gun também era peça importante. Para alguns, Nash jamais seria candidato ao Hall da Fama e duas vezes MVP sem o jogo corrido. Pode ser, mas eu prefiro pensar que o “se” não existe.

O ótimo humor dos tempos de Suns não o acompanhou em Los Angeles e seus vídeos ficaram cada vez mais raros. 

Comparação com Jason Kidd

Steve Nash

Não adianta. Pode ser que seja por terem sido contemporâneos, mas quando você pensa nele, você lembra de Jason Kidd. O agora técnico do Milwaukee Bucks, foi o seu principal rival. Ambos jogaram pelo Phoenix Suns e Dallas Mavericks, e fizeram parte do mesmo elenco no time do Arizona em duas temporadas.

As comparações são enormes, pois os dois dominaram a tabela de assistências entre 1999 e 2011, sendo interrompidos apenas por Andre Miller (2002), e Chris Paul (2008 e 2009). No fim, cada um levou o título de melhor passador em cinco oportunidades.

Nash sempre levou vantagem nos arremessos, mas os números de Kidd impressionam, também. Kidd obteve 107 triplo duplos na carreira. Agora, quando o assunto é duplo duplo com pontos e assistências, quem teve mais? O canadense, com 436 contra 402 de Kidd.

Chances de título

Nos 19 anos de carreira, Nash não teve a felicidade de sagrar-se campeão da NBA. Nas melhores chances, o estilo de jogo do Phoenix Suns não ajudou e o time sucumbiu diante do San Antonio Spurs em três oportunidades.

Os embates diante de Bruce Bowen ficaram para a história. Bowen — para muitos considerado um vilão — fez questão de lembrar o quanto Nash brigou para conseguir ser duas vezes MVP.

Bruce Bowen 

Depois, já próximo dos 40 anos, ele foi para o Los Angeles Lakers atuar em um elenco consagrado, com Kobe Bryant, Dwight Howard, e Metta World Peace. Não deu certo. O Lakers não foi bem, Howard foi embora na primeira oportunidade e a equipe foi desmontada. Apesar disso, ele tentou. As lesões foram mais fortes, porém, e após três anos lutando para retornar às quadras, decidiu parar.

Estilo de jogo

É inegável que a NBA hoje vive uma verdadeira explosão de armadores de grande categoria. Diferentemente das duas décadas anteriores, os jogadores de hoje procuram muito mais o próprio arremesso para depois pensarem na opção do passe. Derrick Rose, Russell Westbrook, Kyrie Irving, e Damian Lillard, são alguns dos principais exemplos desse estilo de jogo.

Em sua época, Nash era uma das referências, ao lado de Kidd. Chris Paul e Deron Williams pareciam travar uma espécie de duelo similar, mas o segundo sofre com os tornozelos e passa longe de seus melhores momentos. Os dois são mais solidários e fazem parte de uma escola que está perdendo adeptos.

Hoje, armadores que buscam mais o passe são aqueles que não possuem um arremesso tão aprimorado. Rajon Rondo e Elfrid Payton são os mais recentes, enquanto Andre Miller — mesmo que ainda em atividade — e Rod Strickland, representam o passado.

Steve Nash

Você pode até questionar se Nash foi correto em seu final de carreira ao postergar a sua aposentadoria. Mas não tem como deixá-lo de fora da lista dos melhores jogadores dos últimos tempos. 

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