Analisamos Untold (Briga na NBA) da Netflix

Documentário foi liberado na última semana pela plataforma

Untold Briga na NBA Fonte: AFP

Untold (Briga na NBA) foi lançado pela Netflix na semana passada e nós analisamos tudo o que foi dito no documentário. É importante salientar que, aqui, terá spoiler. Portanto, assista antes de concluir a leitura da matéria.

Antes de tudo, é preciso entender que a ideia do documentário é, ao mesmo tempo, suavizar as pessoas envolvidas e apontar mocinhos e vilões.

Primeiro, vamos falar sobre os fatos que ocorreram naquele período.

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Alguns anos antes

Metta World Peace (ou Ron Artest, Panda’s Friend, como queira), havia acabado de ser trocado pelo Chicago Bulls para o Indiana Pacers, durante a temporada 2001-02. Naquele ano, Ben Wallace foi eleito, pela primeira vez, o melhor defensor da NBA. Guarde essa informação, pois será importante mais para a frente.

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O Pacers era um time que ia aos playoffs, mas após perder as finais da NBA para o Los Angeles Lakers, em 1999-00, Reggie Miller, o grande nome da franquia, envelheceu e, aos poucos, começou a perder o espaço que tinha. A equipe caiu, por três anos consecutivos, na primeira rodada dos mata-matas, sob o comando de Isiah Thomas.

Então, a direção trouxe, de volta, Rick Carlisle para ser o treinador. Carlisle foi assistente no Pacers por três anos antes de ser escolhido o técnico do Detroit Pistons, em 2001-02. Larry Brown, que havia treinado o time de Indiana, foi para o Pistons.

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World Peace começou a crescer na franquia, principalmente ao lado de Jermaine O’Neal. Lembre-se que Miller estava no fim de sua brilhante carreira. Wallace, no entanto, venceu o seu segundo prêmio de melhor defensor, em 2002-03.

Prêmio de melhor defensor

Ver Ben Wallace ganhar aquele prêmio por dois anos consecutivos não fez muito bem a World Peace. As entrevistas da época indicavam que ele queria ser o melhor defensor a qualquer custo. Aquilo o consumia. Ele precisava daquilo para ser um profissional completo.

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Ele mudou o número de camisa. Deixou o 15 pelo 23, em 2003-04, pois considerava Michael Jordan um dos melhores defensores de todos os tempos. Naquela temporada, World Peace foi eleito para o Jogo das Estrelas pela primeira e única vez. E, finalmente, brecou Wallace e ficou com o prêmio. Mas eles se encontrariam nos playoffs daquela campanha.

Playoffs de 2003-04

Com Rick Carlisle, o Indiana Pacers tornou-se um time confiável dos dois lados da quadra. A equipe não era mais de Reggie Miller, então, com 38 anos. Era de Jermaine O’Neal e Ron Artest. O Pacers passou, com autoridade, pelo Boston Celtics e Miami Heat e foi para as finais do Leste. Ali, a equipe encontraria o Detroit Pistons.

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A série contra o Pistons foi brutal, extremamente física e com placares bem diferentes dos de hoje. Em nenhuma das seis partidas, um dos times superou a marca de 85 pontos. Faltas técnicas para todos os lados, o típico jogo de playoffs da metade da década de 2000.

Deu Pistons, por 4 a 2.

Início de 2004-05

Metta World Peace mudou o número de sua camisa mais uma vez. Agora, ele usaria a 91. Para quem não sabe, apenas quatro jogadores usaram o 91. O primeiro deles, Dennis Rodman, um dos melhores defensores e reboteiros de todos os tempos da NBA, mas, também, um dos mais controversos e brigões da liga. Era um tributo a Rodman. Ele acabara de ganhar o prêmio de melhor defensor. No entanto, Ron Artest queria mais.

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Reggie Miller estava se recuperando de uma cirurgia, mas a diretoria foi atrás de Stephen Jackson, que o substituiu no quinteto titular.

O Pacers começou a temporada com tudo, vencendo seis de seus oito primeiros jogos. Imagine só: Jermaine O’Neal, Artest e Jackson sobravam talento e eles estavam no mesmo time. A nona partida era diante do Detroit Pistons.

A briga

Naquele dia 19 de novembro de 2004, Ben Wallace e Metta World Peace trocaram farpas via imprensa, justamente pela briga sobre o prêmio de melhor defensor. Os dois se odiavam, de verdade. Somando isso e ao resultado nos playoffs do ano anterior, o jogo tinha tudo para ser como nos mata-matas, brigado, com muita discussão. E foi assim.

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O Pistons, que ficou com o título de 2003-04 na vitória sobre o Los Angeles Lakers, recebia o Pacers, com um início de campanha nem tão forte, com quatro vitórias em sete jogos. Entretanto, o time de Indiana dominou no primeiro tempo e entrou na segunda etapa apenas para confirmar o triunfo.

Faltava pouco menos de um minuto para o fim. Os titulares sequer deveriam estar mais em quadra, já que a diferença estava na casa dos 15 pontos para o Pacers. Artest, então, cometeu uma falta um pouco mais dura em Wallace. Não seria motivo para uma briga, exceto pelo histórico dos dois.

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Wallace empurrou Artest, que não revidou. Iniciou-se um jogo de empurrões aqui e ali, mas Wallace seguia extremamente irritado. Artest deitou-se na mesa de arbitragem, imaginando que aquilo seria resolvido com uma troca de expulsões. Ou, talvez, até desdenhando da situação. Porém, não foi bem assim que aconteceu.

Um torcedor atirou um copo com bebida em cima de World Peace. O ex-jogador ficou furioso e partiu para as arquibancadas. Acabou descontando no fã errado. Stephen Jackson viu aquilo e também subiu para ajudar. Vários jogadores fizeram o mesmo, para acalmar os ânimos. Pouco adiantou, pois aquilo inflamou a torcida.

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Então, um outro torcedor desceu até a quadra, confrontou Artest, que desferiu um soco nele. World Peace foi contido e levado aos vestiários. No túnel de entrada para lá, porém, fãs do Pistons passaram a jogar bebidas, comidas e garrafas de plástico nos jogadores do Pacers. Um deles arrancou uma poltrona e jogou em direção a O’Neal.

Suspensões

No dia 20 de novembro de 2004, o então comissário David Stern anunciou que Ron Artest, Stephen Jackson, Jermaine O’Neal e Ben Wallace estavam suspensos por tempo indeterminado. No dia seguinte, a NBA determinou as suspensões de nove jogadores envolvidos na briga.

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Jogador Time Suspensões Perdas salariais
Ron Artest Pacers Todo o restante da temporada US$4.9 milhões
Stephen Jackson Pacers 30 jogos US$1.7 milhão
Jermaine O’Neal Pacers 25 jogos (reduzida para 15) US$4.1 milhão
Ben Wallace Pistons Seis jogos US$400 mil
Anthony Johnson Pacers Cinco jogos US$122 mil
Reggie Miller Pacers Um jogo US$61 mil
Chauncey Billups Pistons Um jogo US$60 mil
Derrick Coleman Pistons Um jogo US$50 mil
Elden Campbell Pistons Um jogo US$48.8 mil
David Harrison Pacers Um jogo (reduzida para zero) Zero

A Associação de Jogadores da NBA entrou com um recurso para diminuir as penas de Artest, Jackson e O’Neal. Apenas o último recebeu redução. A Associação indicou que Stern havia agido de forma excessiva e autoritária. Foi ele quem determinou as punições.

Ações posteriores

Preocupada com o resultado da briga, a NBA (David Stern) agiu para conter situações similares. No entanto, por conta de excessivas críticas (marginalizando os atletas) ao estilo dos jogadores, foi iniciado um código de vestimenta. Atletas e membros das equipes foram obrigados a usar trajes formais. Em ginásios, as músicas de hip hop (rap) foram banidas. Jogadores não poderiam mais usar cordões, correntes ou similares aparecendo antes de irem para os vestiários.

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Ron Artest

AFP

Embora Ron Artest tenha sido o principal personagem de toda a briga, tudo aconteceu por conta de rusgas antigas entre Ben Wallace e ele. Foi um excelente jogador, com grande capacidade de defender e vinha em seu melhor ano como profissional. World Peace foi campeão, jogando pelo Los Angeles Lakers, em 2009-10.

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Quatro vezes eleito para os times ideais de defesa, uma vez para os times ideais da NBA e uma vez para o Jogo das Estrelas, Artest foi selecionado pelo Chicago Bulls, em 1999. Após duas temporadas e meia, ele foi trocado para o Indiana Pacers. Depois da briga, foi negociado para o Sacramento Kings. Ficou um ano no Houston Rockets e, em seguida, assinou com o Lakers. Ele teve, ainda, breves passagens pelo basquete chinês e New York Knicks antes de retornar ao Lakers, onde encerrou a carreira, em 2016-17, com médias de 13.2 pontos, 4.5 rebotes, 1.7 roubada e 33.9% de aproveitamento em arremessos de três.

Em 2011, Artest tornou-se Metta World Peace. Em 2014, mudou para The Panda’s Friend. Por fim, no ano passado, ele adotou o sobrenome da esposa e, agora, se chama Metta Ford-Artest.

O documentário

Em partes, o documentário exagerou em alguns detalhes. Jermaine O’Neal, por exemplo, era um excelente jogador, mas não era um superstar. Apesar de apenas 26 anos na época, ele estava em sua nona temporada quando a briga ocorreu. No Leste, era, sim, uma das referências da posição de pivô ou ala-pivô, mas não tinha o tamanho para ser “o cara”, como outros astros da época.

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O’Neal culpa Ron Artest pelo “fracasso” em sua carreira, o que não é bem assim.

Depois do ocorrido, O’Neal teve outras chances, mas sempre se lesionava. Ele não conseguiu cumprir uma temporada completa por toda a carreira. Ele foi para o Jogo das Estrelas em seis oportunidades, mas em 2007-08, aos 29 anos, mostrou sinais de que não conseguia mais competir em nível de um astro. Na temporada seguinte, o pivô foi trocado para o Toronto Raptors. Depois, ele teve passagens por outros quatro times, sem grandes feitos.

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Artest teve culpa? Sim, mas não foi sozinho. Ele não quis ficar no Indiana Pacers no ano seguinte. Torcedores o culpavam por tudo. A pressão era gigantesca e ele pediu para ser negociado e foi para o Sacramento Kings.

Metta World Peace era um jogador complicado, com problemas de depressão e ansiedade. Era aguerrido, que dava tudo de si em quadra. Fora dela, ele era desconfiado, tímido, mas usava o basquete e a música para tentar se equilibrar.

O fato de World Peace ter sido campeão pelo Los Angeles Lakers, anos depois, irritou O’Neal.

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Stephen Jackson queria jogar pelo Pacers, mas já havia sido campeão pelo San Antonio Spurs, em 2002-03. Quando Artest vai para o Kings, ele também se irritou com a decisão do ex-jogador.

A rivalidade entre Detroit Pistons e Indiana Pacers era evidente. A relação entre Ben Wallace e Artest, também. O jogo da briga ainda teve um ingrediente a mais. Ele foi arbitrado por Tim Donaghy, que declarou-se culpado por armar resultados em algumas partidas, por ganhos financeiros, anos depois.

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O documentário mostra detalhes da briga que poucos sabiam, como a quantidade de policiais e seguranças em quadra. O circuito interno de segurança também é decisivo para indiciar o torcedor que arremessou o copo em Artest e o que arrancou uma poltrona para atirar em O’Neal.

Outro detalhe espantoso foi quando um dos três policiais que estavam no ginásio, ao invés de proteger os jogadores, resolveu discutir com eles e até tentou prender O’Neal e tinha em mãos um spray de pimenta, ameaçando Artest.

Aquele foi o último ano de Reggie Miller na NBA. Aos 39 anos, ele resolveu se aposentar sem um título.

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Por fim, aquele Pacers era um dos melhores times, sim. Mas, daí, cravar que seria campeão, é um exagero. A equipe poderia brigar por título, sim, mas o mesmo Pistons foi para as finais mais uma vez.

O documentário é excelente, mostra vários ângulos e diversas perspectivas de jogadores dos dois lados, torcedores envolvidos, policiais e do promotor do caso. Recomendamos.

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