Guerra de egos detonou a possível melhor dupla de jogadores na NBA

Shaquille O’Neal e Kobe Bryant foram campeões três vezes juntos pelo Lakers

melhor dupla jogadores NBA Fonte: John Ruthroff/AFP

Shaquille O’Neal e Kobe Bryant formavam a melhor dupla de jogadores na NBA, mas uma verdadeira guerra de egos acabou com tudo. Eles poderiam fazer o Los Angeles Lakers se tornar imbatível por vários anos, mas não foi o que aconteceu. Hoje, vamos contar como foi o início, o fim e os desdobramentos da separação.

Muitas vezes, nós paramos para observar grandes times que se formam e acabam em um piscar de olhos. Foi assim com o Miami Heat de LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh. O mesmo ocorreu com o Oklahoma City Thunder de Kevin Durant, Russell Westbrook e James Harden. Duas equipes formadas de jeitos diferentes, mas que não se tornaram dinastias como poderiam.

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Enquanto o Heat teve Wade chamando seus amigos Bosh e LeBron para jogarem juntos, o Thunder foi todo montado pelo Draft. Coincidência ou não, a final de 2011/12 foi entre as duas equipes, com Miami vencendo a decisão por 4 a 1.

Wade e James eram uma grande dupla, assim como Durant e Westbrook. Só que elas foram desfeitas e deixaram um gosto de que poderiam mais. Aliás, muito mais.

Mas nenhuma outra dupla de jogadores na NBA acabou tão precocemente como a possível melhor de todas: Shaq e Kobe.

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É bem verdade que Scottie Pippen e Michael Jordan venceram seis títulos pelo Chicago Bulls nos anos 90, mas o que envolvia a do Lakers era muito mais que o ego.

Primeiro, estamos falando de Los Angeles. Um mercado do tamanho de LA, com O’Neal e Bryant era tudo o que a NBA precisava. E ainda rendeu títulos.

O início de tudo

No Draft de 1996, Kobe Bryant foi a escolha 13 do Charlotte Hornets. Vindo do basquete colegial, Kobe era filho de Joe Bryant, um jogador de relativo sucesso na NBA. Aos 28 anos, após oito temporadas na liga, Joe foi jogar na Europa. Por lá, ele atuou basicamente na Itália e encerrou a carreira na França.

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Então, Kobe acompanhava tudo o que acontecia e se tornou fã de Oscar Schmidt, um adversário do pai.

Em 1992, Joe voltou para os Estados Unidos e se tornou treinador em Philadelphia, onde nasceu e onde Kobe passou boa parte da adolescência.

Cinco anos depois, Bryant estava na NBA.

Havia uma certa expectativa quanto ao seu basquete, mas ninguém cravava que ele seria um astro. Potencial, ele tinha, mas a dúvida era para saber se conseguiria jogar coletivamente.

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Na mesma época, Shaquille O’Neal disputava títulos pelo Orlando Magic e já era o nome favorito do pós-Michael Jordan. Afinal, todo mundo queria encontrar um substituto para o seu reinado. Mas mesmo aos 23 anos e com convocações para cada uma de suas quatro primeiras temporadas no Jogo das Estrelas, todo mundo queria saber quando ele seria campeão.

Não era uma questão de “se”, mas quando.

Contrato de Alonzo Mourning motivou mudança

Após o seu quarto ano de Orlando, Shaq tinha conversas avançadas para renovar seu contrato. Só que algo aconteceu no meio do processo.

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“Meu contrato havia acabado e eu sabia que eu era o grande cara ali, mas eu queria ser pago justamente. A parte engraçada é que eu estava pronto para assinar por US$80 milhões, mas algo me dizia para não assinar. Na manhã seguinte, eu estava vendo SportsCenter e apareceu a notícia que Alonzo Mourning assinou por US$115 milhões, então eu fui para o Lakers”, disse Shaq. “Se você paga US$115 milhões por uma BMW, quanto será que custa uma Mercedes? Eu pedi US$150 milhões ao Orlando Magic. O Lakers me ofereceu US$121 milhões. Meu agente perguntou ao Magic se iria igualar e eles disseram que não. Não tive dúvidas”.

O’Neal chegou ao Lakers no mesmo ano em que Kobe veio do Draft. Mas não havia dúvidas de quem era o principal nome da equipe. Enquanto Bryant era apenas um projeto, Shaq já era realidade. Então, o que a direção queria era reforçar o elenco em torno do pivô.

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O Lakers vinha de anos difíceis. Após a aposentadoria de Magic Johnson, não havia “o cara”. Faltava uma identidade para a equipe. Como resultado, em um período de cinco temporadas, foram três eliminações na primeira rodada, uma semifinal de conferência e um ano sem playoffs.

Portanto, Shaq chegou com o status de jogador para fazer o time voltar a ser campeão.

Mas a direção sempre apostou que O’Neal chegaria. Primeiro, enviou Vlade Divac ao Hornets por Kobe. Depois, não selecionou nenhum pivô. Pelo contrário, o Lakers optou por Derek Fisher na pick 24.

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Temporada 1996/97

Enquanto Shaq travava uma batalha com lesões, Elden Campbell voltava a jogar como pivô. Com O’Neal em quadra, Campbell era titular, mas de ala-pivô. O técnico Dell Harris tentava utilizar Travis Knight ou Corie Blount, mas o time não funcionava como deveria.

Nick Van Exel e Eddie Jones eram ótimos jogadores, mas se tornavam meros complementos a Shaq. Jones foi para o All Star Game com O’Neal naquela temporada, enquanto Kobe ainda aprendia o sistema de jogo da NBA. Aos poucos, ele foi ganhando espaço na rotação. Até meados de janeiro de 1997, ele acumulava 17 jogos com menos de dez minutos e outros nove sequer entrava em quadra.

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Mas a diretoria sabia que Bryant precisava jogar e o time tinha carência para a reserva de Campbell. Nas noites em que Shaq não jogava, ele era obrigado a atuar por muitos minutos e a rotação estava curta. Então, o Lakers trocou Cedric Ceballos por Robert Horry.

Pouco depois, Kobe começou a ter mais espaço, embora Jones fosse um dos líderes em tempo de quadra da liga.

O fracasso nos playoffs veio após uma derrota por 4 a 1 para o Utah Jazz, de Karl Malone e John Stockton. Enquanto Malone destruiu Campbell, aquele Jazz foi parar apenas para o Bulls de Jordan.

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Jerry West até gostava de Campbell, mas ele pediu a Harris para dar mais tempo a Horry.

Temporada 1997/98

Apesar de a campanha anterior terminar na semifinal de conferência, a direção queria mais. Era preciso fazer Kobe ter mais tempo e o moldar para ser um jogador com mentalidade mais de grupo. Então, Harris o elegeu para ser o sexto homem da equipe.

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Sua seleção de arremessos ainda era questionável, mas havia uma ideia de que ele pudesse ajudar na organização. Enquanto isso, Fisher se transformava em uma boa opção do banco pelo arremesso e era melhor passador que Bryant.

Com Rick Fox, um ala vindo do Boston Celtics, o Lakers estava moldando o seu quinteto titular.

Veio o Jogo das Estrelas. Shaq, Jones e Van Exel foram chamados, mas Kobe estava em franca evolução ofensiva e ganhou a sua primeira chance. Então, o time de Los Angeles enviou quatro jogadores. Era algo quase inédito.

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Até então, apenas o Boston Celtics (1962 e 1975) e o Philadelphia 76ers (1983) haviam conseguido emplacar quatro atletas ali.

Imagine a pressão em Bryant…

Mas aquilo que estava para se tornar a melhor dupla de jogadores da NBA, ainda iria levar tempo e não seria naquele ano.

Nos playoffs, o Lakers bateu o Portland Trail Blazers e o Seattle Supersonics, mas o Jazz estava determinado e varreu a equipe de Los Angeles.

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Algo precisava acontecer.

Temporada 1998/99

A diretoria queria resultados. Perder na final do Oeste para a melhor equipe da conferência era uma coisa, mas por 4 a 0 era demais. Então, West agiu.

Primeiro, como era uma temporada mais curta pelo locaute, a ideia era formar o melhor elenco para vencer já. West trocou Jones e Campbell para o Charlotte Hornets por Glenn Rice, um cestinha e All Star pelo Charlotte Hornets.

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Com Shaq no comando, Rice era para ser a segunda opção ofensiva, só que os planos de Kobe eram outros. Bryant se tornou o segundo cestinha de forma natural. Assim, ele iniciava, ao lado de Shaq, a melhor dupla de jogadores da NBA da época.

Apesar de Bryant ainda não ter uma grande seleção de arremessos, ele já jogava mais para o time.

Só que aquela temporada foi uma bagunça no Lakers.

Depois de 12 jogos, com seis derrotas, a diretoria mandou Dell Harris embora.

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Em fevereiro de 99, o time contratou Dennis Rodman para ajudar Shaq nos rebotes. E o Lakers venceu dez seguidas. No entanto, não havia conexão entre eles. Até pelo fato de os dois já terem brigado, Rodman caiu de paraquedas no elenco. Sem motivação e foco, ele durou pouco em Los Angeles.

Em abril, após uma derrota por 113 a 86, Rodman recebeu o aviso de que não era para voltar.

Imagine Rodman em Los Angeles. Como poderia dar certo?

Não deu.

E o Lakers chegou aos playoffs com algumas brigas internas e nova varrida, agora para o San Antonio Spurs, que venceria o título daquele ano.

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Temporada 1999/00

Pronto. Você tem a melhor dupla de jogadores da NBA, mas não tem quem comanda. Então, Jerry West contratou o melhor técnico disponível: Phil Jackson.

Entretanto, O’Neal não gostou muito de início. Ele reclamou sobre o triângulo ofensivo de Tex Winter e disse: “então, quer dizer que aqui eu sou Luc Longley?”.

Não, não era.

Longley era o pivô titular do Bulls na segunda fase de três títulos, mas Jackson mostrou que seria bem diferente.

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Bem, para começar a temporada, o Lakers veio forte e venceu vários jogos em sequência. Mas Kobe estava machucado e só estreou em janeiro de 2000. O time vinha embalado quando ele entrou em quadra, então tudo foi mais fácil.

O Lakers venceu 16 partidas consecutivas. Depois, em fevereiro, o time iniciou uma sequência ainda melhor: 19 vitórias seguidas. Até o início de abril, a equipe somou 29 triunfos em 30 jogos.

Então, todo mundo sabia que ali estava o principal candidato ao título.

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Nos playoffs, a equipe bateu cada um de seus oponentes para ser campeã pela primeira vez desde 1988.

E foi com um show de O’Neal: cestinha da temporada, o mais votado para o Jogo das Estrelas, MVP do All Star Game, MVP, campeão e MVP das finais.

Sequência

Enquanto o Lakers vencia os próximos dois títulos, Rice foi embora, Shaq treinava menos e via Bryant crescer dentro da equipe. Então, a direção deixou Horry sair dias depois de assinar com Karl Malone e Gary Payton.

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Mas havia um problema: Payton não entendia o triângulo ofensivo.

Apesar de Jackson ser muito bom de grupo, o time não jogava de forma fluída naquela temporada. As discussões entre Kobe e O’Neal eram quase diárias e formaram dois lados. Alguns estavam ao lado de Shaq, como Malone e Payton, mas a maioria estava com Bryant.

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Então, Malone sofreu uma lesão grave ao tropeçar no pé de Fisher, em dezembro. Ele só voltou às quadras em março. Ao mesmo tempo, Fox tentava ensinar o ataque a Payton, mas havia muita resistência. E Shaq estava muito mais pesado que antes.

De acordo com informações da época, ele chegou a pesar quase 180 quilos.

Mas o Lakers foi para a final da NBA. De algum jeito, mas foi.

Só que era contra um time muito bem treinado, com foco na defesa e bons arremessadores, o Detroit Pistons.

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A decisão foi um verdadeiro passeio. Shaq não conseguia cobrir os arremessos laterais de Rip Hamilton e Chauncey Billups, além de ser engolido por Ben Wallace e Rasheed Wallace.

Melchiades Filho contava tudo isso em ricos detalhes, quando escrevia para a Folha de São Paulo.

O Lakers perdeu e se desfez.

Era o fim da melhor dupla de jogadores da NBA.

Troca de Shaq e de acusações a Kobe

Logo que Shaquille O’Neal foi para o Miami Heat, Kobe Bryant e ele trocaram várias acusações. No entanto, não era nada direto e sim, via imprensa. Enquanto Shaq tentava amenizar a situação nos anos seguintes, Kobe informou que Jerry Buss (diretor da equipe) não queria renovar com o pivô. De acordo com Bryant, Buss disse: “Não vou renovar com Shaq. Eu não vou dar a ele US$30 milhões ou US$80 milhões por três anos. Seu corpo está deteriorando, então não quero pagar esse dinheiro a ele, quando eu posso conseguir algo por ele ao invés de aguardar. Não importa o que você vai fazer, pois não vou pagar Shaq”.

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De fato, O’Neal estava muito acima do peso e “despencando” fisicamente. Mas ele ainda conseguiu atuar por mais dois ou três anos em alto nível antes de entrar em sério declínio. Em Miami, por exemplo, o pivô foi campeão pela quarta vez na carreira. No entanto, já como segunda opção ofensiva, atrás de Dwyane Wade. Depois do Heat, ele passou por Phoenix Suns, Cleveland Cavaliers e Boston Celtics, mas bem longe de seu melhor nível.

Leia mais

Por outro lado, Bryant seguiu em alta por longos anos, até sofrer uma grave lesão no tendão de Aquiles, em 2013/14. Depois, ele ainda atuou por mais dois anos, antes de encerrar a carreira em 2015/16.

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Longe um do outro, eles venceram três títulos. A pergunta é: será que se eles ainda estivessem juntos, não seriam campeões pela mesma equipe?

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Durante a fase final da carreira de Shaq, ele já elogiava Kobe e o respeito mútuo voltou. Eles seguiram amigos até a aposentadoria de Bryant. Aliás, O’Neal estava no último jogo do ídolo do Lakers.

Na morte de Kobe, em janeiro de 2020, Shaq discursou.

“Ele me fez melhor e eu o fiz melhor”, disse. “Juntos, éramos imbatíveis”.

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Eles poderiam ter formado a melhor dupla de jogadores de todos os tempos na NBA. Talvez, até tenha sido durante um período, mas ficou um gosto de que deveria ter sido ainda maior.

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